Friday, September 15, 2006

Na minha terra tem Palmeiras onde canta o sabiá...

Pois é, galera. Já faz um tempinho que estou do outro lado do buraco. De vez em quando sinto uma saudade tão grande do começo do buraco...
Não. Eu não estou entrando em estado deprimente de beber coca todo dia, não. Estou bem. Não preciso de anti-depressivos ainda. Mas a saudade de vez em quando bate...

Dá uma saudade do cheiro da cebola e do alho da mamãe quando ela faz feijão quando eu tô acordando. Daí, de pé, a Arale e o Shiro vem lambendo a minha cara e aí sinto que o dia vai começar. Minha mãe já deixa preparado o meu café da manhã e passo o tempo comendo, pensando e relembrando...

Relembro dos dias gloriosos de São Carlos. E eu sentia uma falta da minha mãe porque eu tinha que preparar o café-da-manhã todos os dias. Ia para a Vovó Lúcia quando tinha saco e comprava aquele pão francês quentinho. De vez em quando a Camila tava em casa e começávamos a conversar. Falar mal do encarregado filho da mãe ou do gerente que pôs alguém para chorar. Daí vinha a carona. Ela ia para Maceió e eu morria de inveja e ela morria de inveja de mim que ia para as estranholândias do interior de São Paulo.

Daí, o trabalho dependia da equipe. Existia a equipe dos bebuns, dos chatos, dos malas e dos não-fede-nem-cheira. Particularmente, eu era da equipe dos bebuns. Porque se tivesse alguém que ingerisse um mínimo de gota de álcool, eu, como a assistente mais velha, colocava os mais novos para beber mais. E, é claro, como você deve ter percebido na citação acima, os bebuns são os mais legais. O pior era o dia seguinte, que eu ia com bafo de cachaça para o Cliente. Eu não me aguentava. O Cliente deveria me querer sob banho de arruda, alecrim, erva-santa, erva-doce e de qualquer outra erva fedida que existe na face da terra. Que vergonha.

E quando o trabalho era com a equipe dos chatos para baixo, eu era a mais legal, então eu tinha todo o direito de mandar em tudo. E não é que isso funcionava? Engraçado que todo mundo me obedecia. Custou um tempo para descobrir que isso era porque eu era brava, e não legal.

Mas enfim, como qualquer rele trabalhadora mortal, sempre esperava com muito anseio as sextas-feiras. Como as sextas de aleluia eram boas! Eram boas durante a expectativa. Porque geralmente eu não saía, entrava em depressão e não fazia nada. Isso porque no sábado tinha que ir ao escritório para ter aulas de inglês ou para trabalhar. Na maioria das vezes eu cabulava as aulas de inglês na caruda e tinha que trabalhar com o professor olhando para minha cara e perguntando: Janete, why didn´t you come to my class?

O domingo era pior ainda. Se eu ficasse em São Carlos, chorava o dia inteiro. A não ser que uma alma amiga me chamasse para sair. Mas isso não acontecia, porque eu trabalhava a semana inteira e as pessoas já tinham esquecido da minha existência. Ninguém queria sair comigo. Mas quando eu saía era legal. Eu me divertia a beça e todo o stress da semana ia embora.

Mas geralmente, eu voltava para o meu lugar. Lá pro bairro das Palmeiras onde canta o sabiá. Lá é o meu refúgio. Meu esconderijo preferido. Meu lugar. Onde minha mãe me acolhe com os braços abertos e uma colher de pau para me endireitar e meu pai não vê problema em me acolher e me mima sem parar.

Quando acabo de tomar o café, estou eu, no meu canto, no meu refúgio. Onde não existe choro, não existe depressão. Lá eu me revitalizo. Eu me sinto forte. Recarrego as energias.

De vez em quando eu preciso desse recarregador. Mas graças a Deus, isso não é com frequencia. Estou ótima. Mas de vez em quando sinto saudades...